O mercado dirigido ao segmento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) está se intensificando cada vez mais em todo o mundo, atingindo mais de 600 milhões de homossexuais assumidos. O sucesso das paradas gays em inúmeras cidades é uma prova da extensão do público que atinge. No Brasil, conforme dados publicados no livro O mercado GLS, de Franco Reinaudo e Laura Bacellar, a população de gays e lésbicas economicamente ativos é de 9,4 milhões de pessoas. Pesquisas apontam que eles dispõem de uma renda cerca de 30% acima da média, são consumidores exigentes e têm uma bagagem maior de cultura e informação. É um segmento com grande potencial de crescimento e ainda pouco explorado.
No mercado editorial, a literatura GLS vem ganhando espaço com obras de excelente qualidade literária. Um dos pioneiros no país foi o Grupo Editorial Summus, que criou o selo Edições GLS em 1998. “Constatamos que havia uma demanda voltada para esse público”, afirma Soraia Bini Cury, editora-executiva do grupo. A editora começou lançando títulos que abordam questões relacionadas à homossexualidade, como sexualidade, aceitação, preconceito e homofobia. São livros de esclarecimentos de psicólogos, psiquiatras, médicos e sociólogos voltados não apenas aos homossexuais, mas ao público em geral – alguns até adotados em escolas para capacitar educadores. Nessa vertente, estão disponíveis, entre outros, Terapia afirmativa, em que o psicólogo Klecius Borges faz um resumo bastante didático sobre a abordagem clínica que considera a homofobia, e não a homossexualidade, uma patologia, e Auto-estima para homossexuais, de Kimeron Hardin, um guia que ajuda homens e mulheres homossexuais a se respeitarem e se amarem.
A outra linha da GLS engloba romances, contos e crônicas de escritores gays ou com temática gay. Muitos títulos são best-sellers, como O terceiro travesseiro, de Nelson Luiz de Carvalho, campeão de vendas que, baseado em fatos reais, narra o período em que dois garotos adolescentes vivem o encantamento da descoberta da paixão; No presente, de Márcio El-Jaick, conta a história de André, um menino que, em meio a problemas de aceitação entre os colegas de escola e tensões familiares, começa a compreender algumas facetas do mundo adulto e a descobrir a própria personalidade; Entre mulheres, de Edith Modesto, traz relatos de lésbicas de todas as idades e classes sociais que tiveram experiências boas ou difíceis; A TV no armário, de Irineu Ramos Ribeiro, analisa a programação das emissoras de televisão e como elas ainda se pautam pelo preconceito e pela falta de informação; em Sexo entre mulheres, Susie Bright, cansada de ler manuais nebulosos sobre o que duas mulheres fazem na cama, escreve com humor sobre sexo, brinquedos e fantasias; O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade, de Daniel A. Helminak, cita fielmente todos os trechos da Bíblia em que há menção de homossexualidade, apontando o engano de quem vê condenação de homossexuais.
“No início, enfrentamos muito preconceito”, observa Soraia Cury. “Apesar de já ter diminuído um pouco, o preconceito ainda existe. Prova disso é que a maioria das livrarias não tem uma seção específica para literatura GLS, colocando esses livros nas prateleiras de literatura geral ou, pior, na de sexualidade, o que é um engano, porque nem todos os livros com essa temática falam sobre sexo. Atualmente, as Edições GLS representam 10% do faturamento do Grupo Editorial Summus e entre os campeões de venda estão muitos títulos GLS. O investimento nesse mercado continua: acabamos de lançar Cine arco-íris, de Stevan Lekitsch, trabalho primoroso que reúne filmes com temática LGBT produzidos em um período de 100 anos, e está no prelo Para sua jukebox, do Márcio El-Jaick.”.
Leitura sem preconceito
Revista Platero nº 20 www.revistaplatero.com.br.
A Revista Platero é uma publicação produzida pela ML Jornalismo para a Livraria Martins Fontes
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